Cinco anos depois
Acho simbólico retornar perto do aniversário de cinco anos da minha filha. Voltar para cá é como abrir as portas de uma taverna que esteve lacrada há um bom tempo.
Entro.
Pela primeira vez, a luz não se esgueira pelas frestas, mas desemboca pelas janelas, que eu abro, convidando o sol a ficar. Há poeira por todo o lado, eu espirro. Desviro canecas da mesa, passo a palma da mão pelo tampo do balcão, sinto a madeira áspera e o cheiro do vinho derramado. Quase posso ouvir as risadas, a música ecoando, histórias sendo aumentadas. Também lembro do vazio que ficava quando as canções paravam e os companheiros partiam. Não há só cheiro de vinho, há cheiro de vômito e de tristeza, de alegria passageira que tentamos prender com os dedos como se fossem razão de ser.
Este lugar, agora, é um túmulo.
Um túmulo de lembranças, de grandes aventuras contadas ao redor da mesa, de páginas e páginas escritas e descartadas - real e metaforicamente. É o túmulo de um tempo despendido e dedicado ao que valia a pena e ao que não valia tanto assim, mas não soubemos - ou não quisemos - enxergar antes.
É o túmulo de quem éramos e já não somos mais.
Pego uma vassoura, varro, limpo os copos. Desta vez, abro a porta com calma, carinho, cuidado. Nem todo mundo há de enxergar ou querer entrar por essa porta, e tudo bem. Tiro do chão as garrafas vazias, afasto as mesas e sorrio. A taverna-túmulo, lugar da ebulição de tantos desejos, já não faz mais sentido. Na verdade, já não é mais taverna e nem túmulo.
É templo.
Se eu estiver sozinha aqui, não importa. Na verdade, eu nunca estive só. Pela primeira vez, eu compreendo a verdade, e ofereço a esta nova paz encontrada cada palavra minha.
Sejam bem-vindos.
Layla
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