Eu não sei mais escrever e Rocky Balboa

No final do ano passado, eu resolvi que não dava mais. 

O ano tinha sido puxado, muito mais do que o normal, e quando eu finalmente cheguei às férias, não encontrei o ânimo que minha cabeça limpa e descansada (depois de alguns dias já sem trabalhar, é claro) costumava providenciar. Eu parecia... esgotada. Como se eu fosse uma vela e tivesse queimado até o fim, restando só fumaça e um borrão preto no candelabro.  

Mesmo assim, fui teimosa. Eu tentei e tentei, escrevi várias páginas, mas tudo parecia muito ruim. Aliás, não parecia - estava ruim. Me faltavam clareza e energia; Em algum momento, decidi que não dava para continuar e larguei mão, meio decepcionada com algo que parecia o fim. Eu sempre gostei de escrever, mas me restava pouca estamina e precisava escolher onde colocá-la. 

A partir daí, muitas coisas aconteceram, mas o que me chama a atenção é que tenho tido alguns problemas de saúde e só hoje pensei, pela natureza das coisas, que, talvez, a falta de escrever e "desaguar" esteja "desaguando" em outros lugares. Cheguei ao cúmulo de apresentar sintomas claros de um problema infeccioso, mas estar com os exames absolutamente normais. 

E por isso estou aqui, numa tentativa anêmica de colocar palavras para fora. Acho que eu poderia chamar o que estou passando de burnout - foi o que me sugeriu um teste de internet,- mas não importa muito o nome, importam mais os resultados. 2023 me apresentou as situações mais difíceis que eu já vivenciei em 12 anos de docência e isso cobrou seu preço. Acho natural. Ainda estou catando os cacos, e descobri que Rocky Balboa tem mais a me ensinar do que as mais refinadas filosofias. 

Viver é sobre saber aguentar; é sobre resistir 15 rounds. Momentos de glória são passageiros, fugazes; para a maioria dos pobres mortais, as coisas acontecem na base da luta. E eu não sou brilhante, nem muito talentosa; tenho muito pouco para dar e desperdicei muito tempo. Não estou romantizando nada, apenas aceitei que isso é a minha vida, ela é o que é. Hoje eu sei que, quando ela bater, o melhor a fazer é dar uma olhada na bichinha de frente e dizer: "vem, vem mesmo, vem com tudo". Não porque sou teimosa - e sou - mas porque eu e os que eu amo merecemos que eu faça o melhor possível. 

E é por isso que digo que eu não sei mais escrever, mas preciso. Um dia, vou descobrir como levantar desse nocaute. 


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